segunda-feira, 11 de julho de 2011

Perto de casa, é melhor

Marcelo Crivella

Para que a paz seja permanente depois da UPP é preciso levar emprego para as comunidades. A única maneira de livrar o povo da miséria, causa principal da criminalidade, é enriquecer o Rio e isso só se faz com trabalho.
Emprego é educação, é saúde, é dignidade de vida. Emprego é a honra do homem de bem que do suor do seu rosto tira o sustento, pratica as virtudes e cumpre o seu destino.
Gerar emprego na comunidade é fundamental. Elimina as despesas com transportes, favorece o meio ambiente e mantém a mãe próxima do filho, que é a melhor vacina contra o tráfico de drogas. Além disso, traz para o mercado de consumo uma enorme parcela de desalentados, que com recursos vão melhorar a casa em que moram, o clube que frequentam e o comércio local onde compram.
Para isso precisamos implantar a Zona Franca Social garantindo incentivo fiscal para as empresas que treinem e empreguem mão de obra local nas comunidades pacificadas.
O Brasil vive um momento histórico. Das maiores hidrelétricas em construção no mundo, três estão aqui: Santo Antonio, Jirau e Belo Monte. Das maiores ferrovias também: a Transnordestina, a Norte-Sul e a Leste-Oeste, ligando Ilhéus a Figueirópolis, no Tocantins. O mesmo ocorre em relação às refinarias de petróleo que estamos construindo no Rio de Janeiro, em Pernambuco, no Ceará e no Maranhão.
A essa altura do nosso desenvolvimento econômico, não é possível conviver mais com essa herança hedionda da desigualdade social no Brasil - comunidade carente - melancólico legado da ausência de líderes políticos capazes de criar instrumentos idôneos e eficazes, para, ao longo dos processos da nossa evolução econômica, garantir a distribuição da riqueza nacional para todos.
Não será a caridade religiosa nem os programas de renda dos governos, por maiores méritos que tenham, para nos redimir dessa injustiça do passado e nos apontar os horizontes da esperança de um novo tempo. É o emprego que distribui renda e valoriza a mão de obra, mesmo diante do mais desalmado capitalismo. A força de trabalho é a única riqueza em comum de todos os brasileiros e, se ela é desvalorizada pelo desemprego crônico e prolongado, o homem do povo é despojado da sua cidadania e empurrado para a marginalidade.
Não se justifica o ativismo estatal, por exemplo, com a Cidade da Música na Barra da Tijuca, onde nem falta interesse privado nem se proporciona elevado número de empregos de maneira sustentada. Ao contrário, condenamos o erário municipal a no mínimo subsidiar a parceria empresarial, se Deus nos ajudar a obtê-la. Mas precisamos do Estado na comunidade carente, com os governos federal, estadual e municipal implementando políticas de renúncia fiscal, investimento em infraestrutura e até dando preferência em concorrências públicas para tudo que micro, pequenas e médias empresas produzirem lá, incluindo também a economia solidária e o cooperativismo.
Moisés, líder do povo hebreu, disse que a paz é fruto da justiça e a segurança se estabelece com o direito. Nas comunidades carentes pacificadas, justiça é garantir ao povo o direito ao trabalho. E, se for perto de casa, melhor. Muito melhor. O tráfico não volta nunca mais, poupando o pacato e generoso povo das comunidades, na sua maioria pobre, humilde e ordeiro, dos horrores de viver sob regras impostas por traficantes ou milicianos e sujeito às balas traiçoeiras e perdidas dos tiroteios sem fim com a policia.
MARCELO CRIVELLA é senador da República pelo PRB-RJ.
Publicado no Jornal O Globo, em 10/12/2010

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